Carta aberta aos meus alunos
Queridos alunos,
Há alguns anos, venho refletindo sobre a minha atuação como professora em sala de aula. A cada ano, sinto a dificuldade aumentar, Sinto que vocês não mais recebem o conhecimento com tanto entusiasmo como há anos atrás, então me questiono: o que eu posso fazer para que esse conteúdo que eu levo aos meus alunos possa ser instrumento de motivação e crescimento para toda a classe? Acredito que cada um que vem para a escola, vem cheio de expectativas, de desejos de adquirir um conhecimento que o desperte para a vida, que o possibilite ver o mundo de uma forma diferente, de uma forma crítica, de poder superar desafios. Acredito que cada um de vocês vem em busca de um conhecimento libertador, que os prepare para a vida fora da escola, que possa lhe proporcionar informações para adquirir uma boa oportunidade de emprego, uma vaga na universidade e de serem inseridos nesse mundo como cidadãos participativos, sabendo tomar as decisões certas nas horas certas. Vejo isso na forma como vocês falam de seu sonhos, nas experiências que trazem para a sala de aula, na forma de se comportarem, de se comunicarem, de mostrarem as suas ansiedades, na busca de serem queridos. Sei que cada um de vocês traz uma realidade, e sei que a realidade pode não ser tão promissora e muitas vezes é uma grande pedra em suas vidas, o que me faz querer estar mais próxima para poder acharmos juntos um caminho que não os afaste da escola. Por outro lado, fico tonta com as transformações tecnológicas, e muitas vezes me pego ainda nos velhos conceitos, como se esses conceitos ainda fossem instigadores para vocês. As mudanças me assustam quando percebo que elas têm poder maior que o meu de motivá-los e envolvê-los numa aventura fantástica de conhecimento. E me sinto até culpada quando percebo que todo esse mundo tecnológico também pode trazer valores distorcidos, armadilhas e perigos, e que eu poderia estar inserida nele, mostrando a vocês como utilizá-lo para seu crescimento intelectual e cultural, no entanto ainda tenho resistências. É nesse momento que eu vejo o quanto é importante que essas transformações também aconteçam em sala de aula. Reconheço que ainda estou me acostumando a elas e eu me sinto triste por não poder competir com elas. Algumas vezes me torno ríspida, repreendo vocês, peço para guardar o celular, tirar o fone do ouvido e fazer silêncio, mas, na verdade, todos esses mecanismos poderiam ser usados para melhorar a forma de comunicação e aproximação entre mim e vocês. De certa forma, até me arrisco, quando peço a vocês para buscarem na Internet, em seus celulares, um texto para ilustrar nossas aulas, e vejo que também encontro obstáculos no emprego dessas tecnologias em sala de aula – ora a internet não dá sinal, ora alguns alunos ainda não possuem celular com Internet, o que acaba não surtindo o efeito esperado. Mas, apesar de tudo isso, o que eu quero lhes dizer é que estou mudando. Estou mudando o meu jeito de ver as novas transformações e, também, de olhar as suas necessidades e de buscar na realidade de vocês o material que vai tornar nossas aulas mais dinâmicas, mais produtivas. Por isso, eu convido vocês a mudarem também. Sei que posso confiar em vocês e preciso que vocês confiem em mim. Tenho certeza que juntos, sem culpa, elevaremos o nível da educação na escola. Eu sei que sozinha não poderei fazer muita coisa, mas, se vocês me derem a mão, juntos poderemos ultrapassar essas barreiras e encontrarmos um ponto em comum para crescermos como seres humanos solidários, participativos, criadores e transformadores, contribuindo para uma sociedade mais justa, igualitária e pacífica. E esse ideal que buscamos só acontecerá a partir da troca e do diálogo.
Conto com vocês!!!
Um forte abraço.
Professora Cláudia Marques